quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

CANTO X - Odisseia


- A obra;
A segunda obra mais antiga da literatura ocidental e também uma das mais importantes, é denominada Odisseia, do poeta grego Homero. Narra, em cantos, a incrível viagem de Ulisses desde Troia até a ilha de Ítaca, depois do fim da Guerra de Troia. 
Tratada como um retrato da cultura daquela época, mostra a rotina de vida, a mitologia e os sentimentos dos protagonistas da história grega daquela época. Para muitos uma leitura de difícil compreensão, para outros um caminho sem fim: cada vez que é relida nasce uma nova visão da obra. Tão aventurosa e incrível foi essa viagem que o termo “odisseia” tornou-se sinônimo de viagem longa e difícil. Essa palavra vem de “Odisseu”, que é Ulisses em grego.
É um dos dois principais poemas épicos da Grécia Antiga. É, em parte, uma sequência da Ilíada. Assim como a Ilíada, é um poema elaborado ao longo de séculos de tradição oral, tendo tido sua forma fixada por escrito, provavelmente no fim do século VIII a.C.

- Enredo 
Os eventos na sequência principal da Odisseia se dão na Grécia Antiga, principalmente naquelas que são atualmente chamadas de ilhas Jônicas. Existem controvérsias quanto à real identificação de Ítaca, terra natal de Odisseu, que pode ou não ser a mesma ilha que é atualmente chamada pelos gregos de Ithake (Tentou-se identificar a Ítaca atual com a antiga, mas não é possível localizar a ilha pela descrição de Homero.)

- Personagens/ Mitologia Greco – Romana 
b. os deuses têm forte influência no futuro do herói
c. existência de criaturas fantasiosas e elementos místicos (feiticeiras, profetas, ciclopes, ninfas, rios de fogo).

A mitologia greco-romana originou uma vasta série de entidades lendárias e mitológicas, entre as quais se encontram os deuses. O mito surge a partir da necessidade de explicação sobre a origem e a forma das coisas, suas funções e finalidade, os poderes do divino sobre a natureza e os homens. Poetas como Homero narravam as histórias dos deuses, que continham poderes além dos seres humanos, interligados à natureza. Por isso o poder em mover mares, controlar o mundo dos mortos, enviar raios, tempestades, entre outros.
Na mitologia grega, os nomes são gregos mesmo e na romana, a nomenclatura aparece em latim. Por exemplo Júpiter e Zeus, dizem respeito ao mesmo deus, governante do Monte Olimpo, mas chamados diferentemente, o primeiro é como os romanos denominam e o segundo como os gregos chamam.

Odisseu/Ulisses - protagonista
O personagem é Rei de Ítaca, casado com Penélope, com quem teve um filho chamado Telêmaco. Idealizador do “Cavalo de Tróia” foi responsável pela entrada do exército grego garantindo o sucesso da batalha. É considerado astuto e muito inteligente, características que podem ser comprovadas através das estratégias que usa para sair de situações perigosas ou complicadas.

Éolo – deus dos ventos
Logo no começo do canto X, quando estão chegando a Eólia (ilha), é mencionado o rei Eolo, também conhecido como senhor dos ventos, que mais tarde “concede” à frota de Ulisses ventos favoráveis para ajudá-los em sua jornada de volta a Ítaca.

Circe – feiticeira/deusa da noite. 
Circe ajuda Ulisses em sua jornada, apesar de inicialmente não parecer. 
Convida a todos que entrem em seu palácio. Após servir queijos e vinho, Circe transforma todos os enviados por Ulisses na expedição de reconhecimento (com exceção de Eurícolo) em criaturas semelhantes a porcos. Ulisses, ao saber da notícia, parte para salvar seus companheiros. Ele acaba se envolvendo com a feiticeira e ele, juntamente com seus “sócios” ficam na ilha por um ano inteiro, vivendo em fartura.
“Ela, pegando a vara, sai de casa 
E abre o chiqueiro; tira-os parecidos 
A varrões de nove anos, em fileira 
Um por um vai com bálsamo esfregando, 
Cair fazendo o pêlo que o veneno 
Exicial criara, e mais os torna 
Jovens e esbeltos [...]”
* exicial: que traz ruína, destruição, danoso
O trecho destacado acima faz referência ao momento em que a feiticeira, a pedido de Ulisses, traz à forma original os guerreiros que foram anteriormente, por ela, transformados em porcos.

Outros personagens e criaturas que são citados no canto X:
Bóreas - é o vento norte;
Prosérpina -  é filha de Júpiter (Zeus) com Ceres (Deméter) - uma das mais belas deusas de Roma;
Tirésias – profeta cego, já morto, é convocado em espírito;
Plutão – Hades, deus dos mortos, do submundo; 
Mercúrio – Hermes, é um mensageiro e deus da venda, mercador;
Érebo: é, na mitologia grega, a personificação das trevas e da escuridão; 
Aurora: é uma deusa do amanhecer; 
Érebo: personificação das trevas e da escuridão;

Os ciclopes: considerados por Homero gigantes, insolentes pastores, possuem apenas um olho e se alimentam de carne humana e as vezes por isso são considerados sem lei, sem moral. Eles podem ser divididos em dois grupos de acordo com o tempo de existência: ciclopes antigos e ciclopes jovens. Podem ser também urânios, filhos de Urano (deus do céu) e Gaia ( mãe da terra) e também sicilianos que são os filhos de Poseidon (supremo do mar).

No livro Odisseia, de Homero, o ciclope responsável por um dos maiores atos da história. Polifemo é o nome desse ciclope, filho de Poseidon com a ninfa (fadas sem asas, personificação da graça criativa e fecundadora da natureza) Teosa, vivia em uma caverna criando ovelhas, caverna essa que Ulisses e seus companheiros ficaram presos, o que ocasionou a morte de dois marinheiros, Polifemo os comeu. Desesperados e tendo que pensar em uma saída o mais rápido possível, Ulisses escapou da caverna escondido debaixo de uma ovelha gerando uma série de conflitos entre Ulisses e os gigantes de um olho só.

Lestrigões: também aparecem no livro, são uma tribo de gigantes antropófagos da mitologia greco-romana. O termo lestrigão foi derivado da palavra grega Laisêion que significa couro cru. Eles eram conhecidos por ser uma sociedade ativa e praticamente incansável.

Observações e destaques do texto:
Crença na fúria dos deuses: 
Éolo – 
“Fora, não devo proteger um homem
Ingrato ao Céu; foge daqui, malvado 
És ódio aos imortais. ”
Presença de elementos místicos: 
Circe: 
“Arma, Ulisses, o mastro, expande as velas; 
Senta-te, e a Bóreas encomenda o rumo. 
Quando, por entre o pego, à mole praia 
E ao luco de Prosérpina chegares, 
De salgueiros estéreis e altos choupos, 
Surjas lá no Oceano vorticoso, 
E à casa opaca de Plutão caminhes, 
Onde o Cocito, que do Estige mana, 
Com o ígneo Flegetonte, separando 
Celsa penha os ruidosos confluentes, 
Mete-se no Aqueronte.”
* O rio Cócito, na mitologia grega, é o rio das lamentações;
* Estige, na mitologia grega, é uma ninfa e também um rio infernal dedicado a ela;
* Flegetonte é um rio de fogo do submundo;
* Aqueronte é também um rio mitológico, no qual após a morte, a alma era deixada, juntamente com todos os seus sonhos, desejos e deveres que não foram realizados em vida;

Circe; 

Plutão;

Há diversos atos heroicos no texto pelo fato de Odisseu ser conhecido pela imensa esperteza. Histórico presente no conto chinês está no momento em que o Odisseu decide que não irá embora da ilha sem antes de resgatar seus companheiros presos no Palácio da feiticeira Circe. 
As personagens agem e falam no discurso direto diante de nós, para nós - preparando de alguma forma o teatro- Ainda não havia análise psicológica e nem do mundo interior. 
Os eventos narrados no texto dependem das ações dos guerreiros, mulheres, escravos e criados presente na trama.


Resumo do Canto X:  
Ulisses e seus companheiros são abrigados em Eólia e recebem ajuda de Eolo (senhor dos ventos), que coloca dentro de uma bolsa de couro de touro ventos para ajudar Ulisses a retornar para Ítaca. Quando Ítaca começa a aparecer no horizonte, Ulisses resolve descansar e seus companheiros, curiosos e crentes de que na bolsa havia ouro, desobedecem ao conselho de Éolo e abrem a bolsa para dividir as supostas riquezas. O vento ali antes preso, escapa todo de uma vez, fazendo o barco retornar a Eólia e levando Ulisses à enorme frustração.

Ulisses e os outros fazem uma breve refeição em Eólia e Éolo questiona o porquê de seu retorno. Ulisses pede ajuda novamente, mas Éolo recusa e os manda embora. De lá, expulso como amaldiçoado dos deuses, Ulisses retornou às ondas do mar e chegou no sétimo dia a Lamos, cidade da Lestrigônia, terra dos gigantes e antropófagos lestrigões. Ulisses envia homens para reconhecer o local e dialogar com os nativos, no entanto, tribos de canibais, sob a ordem de seu rei, o gigante e antropófago Antífates, precipitaram-se sobre os enviados do herói de Ítaca, devorando logo um deles. Arremessando, em seguida, blocos de pedra sobre a frota ancorada em seu porto, destruíram todas as naus, menos a de Ulisses, que ficara mais distante.
Após se lançarem novamente ao mar, acabam por chegar à Eéia, ilha de Circe. Descansam, num primeiro momento e depois Ulisses envia exploradores. Ulisses, após matar um cervo, conforta seus companheiros com comida e bebida. Adormecem na areia. Ulisses faz um discurso motivacional e eles se recordam dos antropófagos Antífates e Ciclope. Os exploradores andam por um vale de mármore, cercado de lobos e leões enfeitiçados por Circe e escutam então o canto da deusa.

Circe aparece e convida a todos que entrem em seu palácio. Euríloco, um dos companheiros de Ulisses, receoso, fica do lado de fora. Após servir queijos e vinho, Circe transforma todos os enviados (com exceção de Eurícolo) em criaturas semelhantes a porcos. Eurícolo volta às pressas para contar o fato a Ulisses, que reúne suas armas para partir. Euríloco tenta impedi-lo, mas Ulisses diz “Por mim o dever clama”. Ulisses parte para salvar seus companheiros.
Ulisses encontra com Mercúrio (Hermes) que lhe oferece uma planta (móli) para evitar um feitiço de Circe. Ulisses continua seu caminho para confrontar a deusa. Ulisses entra em seu “palácio” e bebe o vinho, mas resiste ao encanto por causa da planta que Mercúrio lhe deu. Circe fica surpresa e convida o herói a seus aposentos. Ulisses aceita sob a condição de que a deusa não causa a ele mais danos.

Circe questiona o porquê de Ulisses estar abatido, ele confessa que teme por seus amigos, a deusa vai ao chiqueiro e transforma os companheiros de Ulisses em homens novamente.
Todos celebram o fato recente e Circe os convida para viver em fartura dentro de seu palácio. Euríloco questiona, mas, embora duvidoso, segue o mesmo rumo. Circe cuida de todos e lá permanecem por um ano inteiro.
Ulisses volta a si e pede a deusa que compreenda sua vontade de voltar para solo natal. Circe os “liberta”, mas antes aconselha: pede que Ulisses visite o profeta Tirésias no submundo para que ele possa guiar a nova rota.
Circe explica o ritual que Ulisses deve fazer para evitar a morte no submundo e conseguir consultar Tirésias, podendo então depois retomar o caminho de volta para Ítaca. Ulisses e seus companheiros se despedem e partem ao amanhecer.

Ulisses matando os pretendentes de sua esposa Penélope , na ilha de Ítaca




Alberto Morávia e Recordações de Circe. 

O texto de Morávia se relaciona com o de Homero por tratar com ênfase a cena que se passa na ilha da feiticeira Circe, onde alguns companheiros de Ulisses foram transformados em porcos. Em Recordações de Circe, o narrador da história é Euríloco (um dos tripulantes e companheiro de Ulisses em sua viagem de volta à Ítaca) o que já se difere de Odisseia, onde o narrador é Ulisses.

Alberto Moravia, pseudônimo de Alberto Pincherle (Roma, 28 de novembro de 1907 — Roma, 26 de setembro de 1990)

Essa mudança de narrador traz uma nova visão sobre o Canto X e principalmente sobre a estadia dos companheiros de Odisseu na ilha de Circe, joga uma visão crítica com uma análise mais reflexiva dos fatos da história, uma visão mais contemporânea e mais complexa. Diz que a transformação em porcos não foi num passe de mágica por exemplo, eles viraram porcos devido à vícios e fraquezas, numa espécie de metamorfose mental. Esta mesma transformação causou sentimento de engrandecimento e os tripulantes acharam que seriam pessoas melhores, da forma como Circe os coloca. Agiram como se aquilo tudo fosse normal, tomavam banho de lama e acreditavam que estavam reproduzindo ritual dos deuses. Euriloco, por estar presente ali, dá uma nova versão que complementa e traz controversas à versão de Homero. O que não é esperado, é a forma como ele retrata a aceitação dos tripulantes aos desejos de Circe. Dentro desse mesmo contexto, citando a obra de Morávia, Afonso Romano de Sant'anna escreveu uma crônica que cita o conto Recordações de Circe, e cria uma nova visão abordando o conto e relacionando à uma crítica da sociedade na época em que vivia. 


Grupo: 
Giulia Paixão, Isabela Quadros, Letícia Nunes, Lucas Uriel e Robson Silva

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Descida ao Maelstrom, Edgar Alan Poe



No início da história, Poe coloca o seu narrador no topo de uma falésia altíssima, junto a um velho marinheiro que três anos antes desceu ao coração do mäelstrom e sobreviveu para contar. Descobrimos logo que este segundo narrador não é velho, mas acabou vendo seu cabelo se tornando branco em poucas horas devido ao impacto da experiência que vamos contar a seguir. Ele costumava pescar com os dois irmãos em águas perigosas, em que poucos se aventuravam: nas proximidades do mäelstrom. Eles acabavam sempre escapando porque sabiam a hora certa em que o fenômeno começava a se formar. Surpreendentemente, as circunstâncias mudaram em uma determinada tarde. Um furacão que apareceu repentinamente deixou-os ao alcance do redemoinho. Um dos irmãos logo caiu do barco.  Num certo momento, o marinheiro perde as esperanças: “Comecei a pensar em como era magnífico morrer desta maneira, (…) diante de uma tão maravilhosa manifestação do poder de Deus”. E decide aceitar seu destino.

É nesse momento que  a lua cheia ilumina as paredes de água e forma um arco-íris, bem no fundo. É esse desprendimento que o salvará. Tomado por certa frieza, agarra-se a um barril e espera (exausto) o suficiente para que o maelstrom perca a força e ele retorne até à superfície, vivo.
Ao final do conto, ele admite que ninguém acreditou na sua história e que também não espera que o primeiro narrador acredite.

Durante nossas pesquisas sobre o conto, encontramos uma análise interessante. Ela propôs olharmos para o mäelstrom como uma metáfora para o caos. “O caos que não controlamos e nos devora. Um país em crise, um amor falhado, a ausência de futuro. Queríamos todos perceber o que nos pode salvar. Os barris estão talvez ali, à nossa frente, mas não os vemos, cegos com a perspectiva do abismo.”
Ou seja, se nos rendermos ao caos e, como os irmãos do narrador, deixarmos a calma de lado, certamente vamos afundar. Não há saída melhor do que aceitar o problema e, então, pensar em maneiras de solucioná-lo dentro das possibilidades de cada momento da vida.

Lucas Uriel, Isabela Quadros, Robson Silva, Letícia Nunes, Giulia Paixão.

Século XXI e a necessidade de se saber tudo


O Irmão Alemão

O Livro

Chico Buarque de Holanda conhecido como compositor e cantor brasileiro, filho de uns dos maiores intelectuais nacionais, também se aventura no meio literário. Depois de escrever alguns livros, entre infantis e adultos, o artista resolve escrever mais um romance.
            Em companhia de alguns amigos do pai, Chico acaba por ouvir algum deles comentar sobre um filho que Sérgio Buarque de Holanda poderia ter deixado na Alemanha, no período em que esteve lá. Na entre safra de escrita do novo romance, Chico se depara com um livro sobre os horrores da Segunda Grande Guerra Mundial, e fica se pergunta se o possível irmão teria vivido em tal contexto, a partir daí, resolve não só escrever sobre, mas ir atrás do irmão e concluir essa história não só na ficção mas no real.
            No livro o autor/personagem conta que descobriu sobre um irmão em uma carta escrita em alemão encontrada dentro de um livro, e para se "mostrar" para o pai, que parecia sempre preferir o irmão (irmão esse que foi inventado para o romance), decide ir em busca desse elo familiar perdido da Alemanha.

O gênero

A autoficção seria uma variante pós-moderna da autobiografia na medida em que ela não acredita mais numa verdade literal, numa referência indubitável, num discurso histórico coerente e se sabe reconstrução arbitrária e literária dessa ausência de um romance que apresentasse em sua estrutura uma identidade de nomes entre autor, narrador e personagem, identificada por Philippe Lejeune, na primeira edição de seu estudo O pacto autobiográfico, é novamente preenchida aqui, agora não mais por Serge Doubrovsky, mas, sim, por Ricardo Lísias. Não há como não se chocar com a presença do nome do autor enquanto forma de nomeação do personagem-narrador do romance.
            A presença do nome do autor cria uma fissura no tecido narrativo e produz um efeito de estranhamento que o lança a uma espécie de fronteira interpretativa. Trata-se, é claro, de um jogo no qual o próprio autor coordena e orienta as suas investidas no campo ficcional não apenas como sujeito autoral e produtor do discurso, mas, igualmente, como personagem e matéria da narrativa. O leitor é parte ativa desse jogo, sua leitura não é passiva e muito menos funciona apenas como um simples identificador das marcas biográficas do autor que corroboram para a classificação do romance enquanto um texto autoficcional. Resta ao leitor e à crítica construírem formas de compreensão dessas investidas e interrogar quais as ressonâncias desse ato de convergência entre duas formas em princípio antagônicas, a autobiográfica e a ficção fragmentos esparsos da memória.
            Diante do breve quadro apresentado que tem como principal imagem a existência de um escritor que intencionalmente busca fundir sua identidade à do seu próprio personagem acredita-se que pude justificar de modo preciso a minha afirmação em relação aos leitores que percorreram as páginas do romance em busca de um relato acerca da vida íntima do escritor. No entanto, percebe que a adoção da autoficção como gênero e, principalmente, a proposta de criação de uma homonímia entre escritor, personagem e narrador, não obedece ao desejo de expor e narrar aspectos da vida íntima do escritor.

O distanciamento da autobiografia

A aparição assídua de escritores em rádio, televisão, lançamentos de livros entre outros eventos, situação que passou a ser comum a partir dos anos 2000 gerou no leitor uma curiosidade que nunca tinha sido despertada: saber o que se passa na vida de tais escritores fora de seus livros, quando não estão criando ou até mesmo durante suas criações, mas intimamente. Porém a forma de preencher essa lacuna não foi apenas com uma biografia e sim como uma forma de criar uma narrativa sobre o próprio autor que se refere em terceira pessoa em situações nem sempre reais, tal molde é como uma crítica à noção de sujeito, essa necessidade presente no século XXI de sempre saber o que se passa no cotidiano de todos.

Principais obras

Ribamar, de José Castello: O autor recria algumas histórias do pai, José Ribamar, principalmente sobre as viagens dele a Paraíba e Piai. Porém como característica geral do gênero aqui tratado, as histórias reais se misturam com lembranças inventadas, deixando o leitor sem saber onde começa o real e termina a fantasia.

Divórcio, de Ricardo Lisias: O livro conta de forma dramática a vida do casal depois que o autor e personagem principal da trama encontrar sem querer o diário da esposa e nele lê coisas sobre ele que lhe tira o sono por dias. Partir desse incidente ele conta para o leitor o que ele mesmo chama de o seu “desmoronamento”, e tenta entender como chegou a esse ponto crítico

O Filho Eterno, de Cristóvão Tezza: Assim como o autor o personagem também tem um filho portador de síndrome de Down. O livro tem como intenção mostrar a relação pai e filho, o acerto de contas entre os dois, mais principalmente do autor com ele mesmo. Apesar de negar que o livro se trata de memórias

Todos os livros desse gênero têm uma mesma intenção de linguagem, todos são contados a partir da memória do autor, das suas lembranças, e apesar de alguns serem mais reais que os outros, todos têm uma pitada ficcional, já que a nossa memória é tão confiável como imaginamos. 


Grupo: Alice Gotelip, Bruna Assis, Hugo França, Mariana Almeida




O irmão Alemão - Francisco Buarque de Hollanda 

Sinopse e ficha técnica 

http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=13482

Enredo

A narrativa é construída através do gênero de autoficção, e por isso o autor usa de fatos que realmente aconteceram, e outros que foram criados por ele. O livro foi lançado em 2014, escrito pelo cantor e compositor Chico Buarque

O livro retrata a intensa busca de Ciccio (Chico Buarque) por um irmão até então desconhecido. O adolescente Ciccio encontra em um dos livros do pai, Sérgio Buarque de Holanda, tratado no livro como  Sérgio de Hollander; a carta fazia referência ao irmão misterioso, de descendência alemã. O pai passou parte de sua vida na Alemanha, e lá construiu laços com uma mulher, chamada Anne Ernst, que resultaram no nascimento de Sergio Ernst.

O pai de Ciccio é retratado no livro como um homem intelectual, que possui uma biblioteca vasta de livros; a mãe, Assunta, é uma mulher de descendência italiana, dedicada à família, e que fica responsável por organizar a biblioteca de seu marido.
Em meio a uma adolescência conturbada, composta por porres, roubos de carros e atitudes nem sempre lícitas, Ciccio se aventura numa intensa busca por seu irmão alemão, arriscando muitas vezes até a relação com o pai, que já não era das melhores.
Mimmo, irmão mais velho de Ciccio, é um clássico galanteador, que vive  rodeado de mulheres. Apesar de Ciccio ser muito interessado por livros, como o pai, se mostra magoado por não receber dele a mesma atenção que o mesmo dá a Mimmo.

E assim a história se desenvolve entre ficção e realidade, mostrando Ciccio preocupado com a existência do irmão alemão, e demonstrando um grande interesse em conhecê-lo.

Verdades e mentiras do livro

- Chico Buarque realmente teve um irmão alemão;
- Sérgio Buarque morou em Berlim nos anos 1929 e 1930, onde foi correspondente de O Jornal, órgão do Diários Associados. Nessa época, teve uma relação com Annie Ernst;
- Sergio Günther, o irmão alemão, nasceu em 21 de dezembro de 1930, e Sérgio Buarque já tinha regressado ao Brasil;
- Chico Buarque descobriu que tinha um irmão alemão em um encontro que teve com os artistas e poetas Manuel Bandeira, Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Chico conhecia Manuel desde pequeno, e, nesse encontro, Bandeira mencionou um filho alemão de Sérgio.
- O irmão Mimmo, citado no livro, não existe.
- Sergio Günther foi jornalista, como o pai, e em parte músico como o meio irmão brasileiro, já que cantava por hobby;
- Chico Buarque realmente roubava carros por diversão, como citado no livro.

Chico Buarque e seu irmão alemão Sergio Günther

Sobre o Autor

Francisco Buarque de Hollanda, mais conhecido por Chico Buarque (Rio de Janeiro19 de junho de 1944), é um músicodramaturgo e escritor brasileiro. É conhecido por ser um dos maiores nomes da música popular brasileira (MPB). Sua discografia conta com aproximadamente oitenta discos, entre eles discos-solo, em parceria com outros músicos e compactos.
Filho do historiador Sérgio Buarque de Holanda e de Maria Amélia Cesário Alvim, escreveu seu primeiro conto aos 18 anos, ganhando destaque como cantor a partir de 1966, quando lançou seu primeiro álbum, Chico Buarque de Hollanda, e venceu o Festival de Música Popular Brasileira com a música A Banda. O cantor se exilou na Itália em 1969, devido à crescente repressão do regime militar do Brasil nos chamados "anos de chumbo", tornando-se, ao retornar, em 1970, um dos artistas mais ativos na crítica política e na luta pela democratização no país. Na carreira literária, foi vencedor de três Prêmios Jabuti: o de melhor romance em 1992 com Estorvo e o de Livro do Ano, tanto pelo livro Budapeste, lançado em 2004, como por Leite Derramado, em 2010.





Características da autoficção
- Pacto paradoxal com leitor: contraditório, pois
rompe com princípio de veracidade (pacto
autobiográfico), sem aderir integralmente ao
princípio de invenção (pacto romanesco/ficcional);

 - mesclam-se os dois: contrato de leitura marcado  por ambiguidade em uma narrativa intersticial (limítrofe);
- pacto do romance autobiográfico é fantasmático: autor sem intenção de se revelar, só encontrado recorrendo à extratextualidade (O Ateneu, de Raul Pompeia, de 1888: intenção que fosse lido como romance);

- autoficção: romance pode simular ser autobiografia ou camuflar relato autobiográfico sob denominação de romance;

-da dissimulação e do ocultamento do romance autobiográfico passa-se à simulação e à aparência de transparência da autoficção;
.autoficção como neologismo criado por Serge Doubrovsky:

- o movimento da autobiografia é da vida para o texto, e da autoficção, do texto para a vida;
 - na autobiografia, narrador-protagonista é alguém famoso, que desperta interesse e curiosidade no público-leitor;

- na autoficção, autor pode chamar atenção para sua biografia pelo texto ficcional, mas é o texto
literário que está em primeiro plano.


Grupo

Guilherme Lamas 
Gustavo Resende
Lucas Galhardo
Paula Breviglieri


O tempo além do elemento construtivo da narrativa

    Pensar a história do gênero Épico ou Narrativo é procurar no passado sobre todas a mudanças no cenário literário e chegar até a Grécia Antiga. Era neste momento que a divisão dos três gênero literários era formada: gênero épico, gênero lírico e gênero dramático. Até então, o gênero épico era entendido como aquele em que havia algum tipo de narrativa mais extensa e que discorriam sobre grandes histórias e feitos de heróis. Com uma linguagem elaborada tais acontecimentos acabavam imortalizados através dessas narrações. Muitas vezes com a ajuda do mitológico e do fantasioso as narrativas algumas vezes foram construídas em versos.  

    Com o passar do tempo as narrativas em formato de proza foram tomando lugar á frente dos poemas épicos, até este último cair em desuso em prol do ápice do romance. Tendo ao longo da história o gênero narrativo criando ramificações, como se fossem subgêneros. Seriam estes o romance, a novela, o conto, a epopeia, a fábula , o ensaio e a crônica. 


   Tenda em vista os dois contos em questão, “Uma Descida no Maelström” de Edgar Allan Poe e O jardim de caminhos que se bifurcam” de Jorge Luis Borges, podemos dizer que muitas vezes esse gênero é confundido com a crônica, entretanto se trata de uma narrativa curta, bem mais breve que o comum. O tempo da história é reduzido e  contém poucos personagens, sendo todos eles pertencentes à um núcleo. O conto é característico em ser um relato de algum fato que aconteceu com algum personagem, mas nem sempre é algo que ocorreu com todo mundo da história. Esse relato pode ter aspecto real ou fantástico como também pode ter um tempo cronológico ou psicológico, tudo em prol da narrativa.   Ao pensarmos nas questões da modernidade, ambas as obras nos trazem conteúdo e relações diretas com a busca pelo novo. A utilização de metáforas e aplicação de estilos e maneiras do correr do tempo nessas narrativas constroem um universo de significados e agrega valor aos contos.

 Borges por exemplo, ao desconstruir o tempo linear em sua obra e utiliza dessas ferramentas como metáfora e afins que são características da modernidade e da pós-modernidade. Toda a construção de um sistema próprio de tempo, onde existem vários tempos dentro de outros tempos nos remete a questões como a do labirinto. Aquele que está imerso num determinado contexto não conseguiria enumerar o que é contemporâneo por não saber ser justo e sábio sobre o universo em sua volta e sobre o seu tempo. O intempestivo sim é o contemporâneo. Aquele que não se adequa ao seu próprio tempo, que se parece distante e fora da bolhaEnquanto divaga pelas bifurcações que o conduzem até Stephen Albert, Yu Tsun imagina um labirinto de labirintos, “um sinuoso labirinto crescente que abarcasse o passado e o futuro e que envolvesse, de algum modo, os astros. Absorto nessas imagens ilusórias, esqueci meu destino de perseguido. Senti-me, por um tempo indeterminado, conhecedor abstracto do mundo.”  Como se houvesse um tempo próprio do personagem.  

  Já ao falarmos de Edgar Poe, em sua obra a jornada do personagem principal e a percepção do tempo pelo mesmo nos remete metaforicamente aos ideias de moderno. Para se ter melhor noção de seu conflito, o pescador tenta perceber um certa ordem no caos, onde conclui que para se salvar deveria pular do barco, após isso, quando finalmente é salvo e constata que o tempo passou de maneira "repentina" o escritor toca na mesma tecla. São esses elementos que fazem da obra de Poe um conto fantasioso e que agrega valores do mundo real de maneira ficcional criando sentindo e questionamentos em suas metáforas. Em ambas as obras, o tempo constrói paradigma e estabelece sentido nas narrativas. 

Grupo: Caique Cahon - Ana Carolina Rezende - Gustavo Furtuoso

O Irmão Alemão, romance de Chico Buarque

Podemos entender o romance como algo que associamos ao nosso cotidiano, interpretado, muitas vezes, pelos filmes modernos ou até mesmo sendo representado pelos cancioneiros de Chico Buarque. Outra definição seria a matéria viva, a obra de ficção misturando o que foi, o que poderia ter sido e o que jamais será. É um conjunto de memória, sonho, realidade e fantasia, onde designa o leitor a viajar pelas entrelinhas submetidas pelas leituras e suas interpretações ao longo do tempo. Também podemos associar às novelas, apesar do romance ser considerado maior que as novelas, onde existem características do nosso dia a dia, mas nem tudo representa a realidade. A narrativa sendo dividida pelos heróis, com características de bonzinhos e galãs, se contrapõem aos vilões, que apresentam características opostas às dos protagonistas. Os conflitos abordados e explorados escapam do que poderia ser real e ocorre uma mistura com a fantasia.

O romance pode variar na sua estrutura, pois seu gênero é mais flexível comparado aos outros gêneros literários. Pode apresentar mais de mil páginas ou um décimo destas páginas. Sua narrativa pode seguir um tempo linear, um tempo cronológico ou ir e voltar no tempo. Pode representar o passado, o presente ou o futuro. No caso deste romance de Chico Buraque, O Irmão Alemão, o autor apresenta a narrativa no passado na procura do irmão que desconhece, de naturalidade alemã.

Analisando a obra de Chico Buarque, primeiramente devemos observar a trajetória e a vida do autor. Como em muita de suas obras, Chico apresenta um contexto histórico para narrar suas histórias. Em O Irmão Alemão – romance auto-ficional –, o leitor não consegue identificar o que é real e o que foi acrescentado na história, a não ser que tenha um profundo conhecimento sobre a vida do autor e saiba discernir o que é verdade e o que foi introduzido para dar outra aparência e sentido à trama. Um clássico romance que se encaixa perfeitamente nas características deste gênero.

 A narrativa deste livro envolve dois períodos vividos em países diferentes, a ditadura militar e o nazismo na Alemanha. Possui uma brincadeira envolvendo o mistério na busca do irmão alemão, deixando o leitor preso a narrativa de forma que possui mais de uma verdade. Se o leitor não consegue decidir em qual acreditar, é prudente que ele confie em ambas.

O contexto histórico em que o romance é publicado também é bem significativo: foi em 2014 que saíram os resultados da Comissão da Verdade, que julga crimes que aconteceram na ditadura. Chico foi um dos artistas que mais sofreram com a censura na ditadura, com dezenas de músicas impedidas de serem gravadas e lançadas e tendo, inclusive que ir para o exílio na Itália.

O Irmão Alemão é apenas mais uma amostra do talento de Chico Buarque em transformar uma boa história em uma obra de excelência, juntando referências, memórias pessoais e situações ficcionais que, de tão bem pensadas e amarradas na história, passam por reais. Cabe ao leitor saber reunir as peças do grande quebra-cabeça que forma a vida do autor, e não confundi-la totalmente com a vida do narrador da história.


Grupo: Carolina Doro, Carlos Fellippe, Everton Marin, João Guilherme, Vivian Armond.