quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Século XXI e a necessidade de se saber tudo


O Irmão Alemão

O Livro

Chico Buarque de Holanda conhecido como compositor e cantor brasileiro, filho de uns dos maiores intelectuais nacionais, também se aventura no meio literário. Depois de escrever alguns livros, entre infantis e adultos, o artista resolve escrever mais um romance.
            Em companhia de alguns amigos do pai, Chico acaba por ouvir algum deles comentar sobre um filho que Sérgio Buarque de Holanda poderia ter deixado na Alemanha, no período em que esteve lá. Na entre safra de escrita do novo romance, Chico se depara com um livro sobre os horrores da Segunda Grande Guerra Mundial, e fica se pergunta se o possível irmão teria vivido em tal contexto, a partir daí, resolve não só escrever sobre, mas ir atrás do irmão e concluir essa história não só na ficção mas no real.
            No livro o autor/personagem conta que descobriu sobre um irmão em uma carta escrita em alemão encontrada dentro de um livro, e para se "mostrar" para o pai, que parecia sempre preferir o irmão (irmão esse que foi inventado para o romance), decide ir em busca desse elo familiar perdido da Alemanha.

O gênero

A autoficção seria uma variante pós-moderna da autobiografia na medida em que ela não acredita mais numa verdade literal, numa referência indubitável, num discurso histórico coerente e se sabe reconstrução arbitrária e literária dessa ausência de um romance que apresentasse em sua estrutura uma identidade de nomes entre autor, narrador e personagem, identificada por Philippe Lejeune, na primeira edição de seu estudo O pacto autobiográfico, é novamente preenchida aqui, agora não mais por Serge Doubrovsky, mas, sim, por Ricardo Lísias. Não há como não se chocar com a presença do nome do autor enquanto forma de nomeação do personagem-narrador do romance.
            A presença do nome do autor cria uma fissura no tecido narrativo e produz um efeito de estranhamento que o lança a uma espécie de fronteira interpretativa. Trata-se, é claro, de um jogo no qual o próprio autor coordena e orienta as suas investidas no campo ficcional não apenas como sujeito autoral e produtor do discurso, mas, igualmente, como personagem e matéria da narrativa. O leitor é parte ativa desse jogo, sua leitura não é passiva e muito menos funciona apenas como um simples identificador das marcas biográficas do autor que corroboram para a classificação do romance enquanto um texto autoficcional. Resta ao leitor e à crítica construírem formas de compreensão dessas investidas e interrogar quais as ressonâncias desse ato de convergência entre duas formas em princípio antagônicas, a autobiográfica e a ficção fragmentos esparsos da memória.
            Diante do breve quadro apresentado que tem como principal imagem a existência de um escritor que intencionalmente busca fundir sua identidade à do seu próprio personagem acredita-se que pude justificar de modo preciso a minha afirmação em relação aos leitores que percorreram as páginas do romance em busca de um relato acerca da vida íntima do escritor. No entanto, percebe que a adoção da autoficção como gênero e, principalmente, a proposta de criação de uma homonímia entre escritor, personagem e narrador, não obedece ao desejo de expor e narrar aspectos da vida íntima do escritor.

O distanciamento da autobiografia

A aparição assídua de escritores em rádio, televisão, lançamentos de livros entre outros eventos, situação que passou a ser comum a partir dos anos 2000 gerou no leitor uma curiosidade que nunca tinha sido despertada: saber o que se passa na vida de tais escritores fora de seus livros, quando não estão criando ou até mesmo durante suas criações, mas intimamente. Porém a forma de preencher essa lacuna não foi apenas com uma biografia e sim como uma forma de criar uma narrativa sobre o próprio autor que se refere em terceira pessoa em situações nem sempre reais, tal molde é como uma crítica à noção de sujeito, essa necessidade presente no século XXI de sempre saber o que se passa no cotidiano de todos.

Principais obras

Ribamar, de José Castello: O autor recria algumas histórias do pai, José Ribamar, principalmente sobre as viagens dele a Paraíba e Piai. Porém como característica geral do gênero aqui tratado, as histórias reais se misturam com lembranças inventadas, deixando o leitor sem saber onde começa o real e termina a fantasia.

Divórcio, de Ricardo Lisias: O livro conta de forma dramática a vida do casal depois que o autor e personagem principal da trama encontrar sem querer o diário da esposa e nele lê coisas sobre ele que lhe tira o sono por dias. Partir desse incidente ele conta para o leitor o que ele mesmo chama de o seu “desmoronamento”, e tenta entender como chegou a esse ponto crítico

O Filho Eterno, de Cristóvão Tezza: Assim como o autor o personagem também tem um filho portador de síndrome de Down. O livro tem como intenção mostrar a relação pai e filho, o acerto de contas entre os dois, mais principalmente do autor com ele mesmo. Apesar de negar que o livro se trata de memórias

Todos os livros desse gênero têm uma mesma intenção de linguagem, todos são contados a partir da memória do autor, das suas lembranças, e apesar de alguns serem mais reais que os outros, todos têm uma pitada ficcional, já que a nossa memória é tão confiável como imaginamos. 


Grupo: Alice Gotelip, Bruna Assis, Hugo França, Mariana Almeida




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