A palavra drama significa ação. Sendo assim, chamamos de gênero dramático o conjunto de obras literárias que são escritas para a encenação, isto é, personagens que realizam ações sob um palco. Em textos narrativos, geralmente, há uma maior abundância de narração e descrição, com o diálogo possuindo papel apenas secundário. Já nos textos dramáticos, as falas dos personagens carregam informações primordiais e não há necessidade de descrição, uma vez que existem recursos visuais, como maquiagem, figurino e cenografia, que assumem essa função. O gênero surgiu na Grécia antiga, nos cultos a Dionísio (deus da fertilidade e da alegria), onde havia celebrações com coros, cantos e danças, que depois vieram a ser incorporados ao teatro. O espetáculo era representado por três atores, que desempenhavam todos os papéis usando máscaras, e os teatros eram construídos ao ar livre. Mais informações sobre o gênero dramático podem ser encontradas nesta página.
A tragédia, segundo apontou Aristóteles em sua "Arte Poética", deve ter uma estrutura clara com o momento em que inicia a ação, o clímax, e a resolução. Nessa estrutura, a resolução deve resolver os problemas que criaram o conflito inicial, e o clímax deve fazer com que a ação chegue ao momento máximo de tensão. Aristóteles também pensava que uma peça trágica deve ser autossuficiente e não deixar que a trama seja determinada por elementos externos, como a coincidência.
A principal característica de uma tragédia é a presença de um herói trágico, que possui uma posição de grande renome e responsabilidade. O herói deve cair a partir dessa posição, sua queda deve vir de uma falha trágica, uma característica negativa da personalidade do indivíduo. Aristóteles também ressaltou a importância da unidade de tempo, lugar e ação. Segundo ele, a trama deve acontecer em um único intervalo contínuo de tempo, em um mesmo lugar e acompanhando uma mesma ação, cujo fim determina também o fim da peça.
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Retomando a ideia presente na Poética de Aristóteles, segundo a qual a tragédia surgiu do coro trágico e que em sua origem ela era, inclusive, só coro; Nietzsche afirma em seu O Nascimento da Tragédia, que esta nasceu do espírito da música, do coro entoado por um cambaleante grupo de adoradores de Dionísio, que foi posteriormente incorporado à representação dramática, por meio da qual Ésquilo e Sófocles criaram a arte da tragédia. Aos olhos dele, a tragédia grega, com essa representação, é a forma artística por excelência, pois foi construída sobre o limite exato entre música e drama.
Se com Ésquilo a tragédia grega havia alcançado seu apogeu; esta chegou à decadência com as peças de Eurípedes, pois nelas passou-se a privilegiar os procedimentos racionalistas em detrimento do mito. Eurípedes introduziu na apresentação das peças trágicas um prólogo que tinha por objetivo "situar" o espectador na trama da peça. Além de destruir o efeito trágico, este procedimento operou a dissolução do palco grego trágico, pois abriu espaço para o espectador ocupar a cena. A partir daí, os motivos e temas divinos foram perdendo espaço e entram em cena as questões cotidianas. Alguns historiadores, inclusive, consideram que este foi o fim da tragédia propriamente dita, pois, de acordo com eles, essa deveria ter relação com o divino; sendo Jesus Cristo, dessa forma, o último herói trágico da história.
Entretanto, o que podemos perceber é uma evolução na estrutura trágica, com a sobrevivência do gênero a partir de algumas transformações. Com Shakespeare, por exemplo. observamos um aprimoramento na construção das cenas e dos personagens. O palco agora recebe mais atores, ao invés de apenas os três das tragédias gregas. Além disso, os personagens são muito mais trabalhados psicologicamente, com conflitos internos e questões existenciais. Tomando a peça Hamlet como exemplo, nós temos a história de um príncipe que investiga a morte do rei, seu pai, que fora envenenado. Assim como Édipo, Hamlet está tentando solucionar um assassinato. Porém, na peça de Shakespeare, não temos a presença de aspectos míticos, como deuses que influenciam e intervêm na vida do personagem. O mais próximo disso que pode ser apontado é a figura do fantasma do rei que surge para ele e o coloca num caminho de vingança contra Cláudio, o rei atual.
Essa vingança vem a causar uma série de mortes, inclusive a do próprio Hamlet pois, como Édipo tinha o orgulho, a falha trágica de Hamlet é a hesitação. Após ser impelido a realizar sua vingança, ele não a segue de uma só vez, sempre receando e hesitando, o que vem a complicar a já complicada situação em que se encontra. Essa atitude também salienta o fato dele ser o agente causador de seu destino, pois não realiza a vingança imediata segundo a sua própria vontade, diferentemente das tragédias gregas em que, por mais que esforços sejam feitos, não se pode fugir do destino traçado pelos deuses.
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William Shakespeare (1564 -1616) |
Essa vingança vem a causar uma série de mortes, inclusive a do próprio Hamlet pois, como Édipo tinha o orgulho, a falha trágica de Hamlet é a hesitação. Após ser impelido a realizar sua vingança, ele não a segue de uma só vez, sempre receando e hesitando, o que vem a complicar a já complicada situação em que se encontra. Essa atitude também salienta o fato dele ser o agente causador de seu destino, pois não realiza a vingança imediata segundo a sua própria vontade, diferentemente das tragédias gregas em que, por mais que esforços sejam feitos, não se pode fugir do destino traçado pelos deuses.
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"Ser ou não ser?", cena da famosa frase de Hamlet |
Avançando ainda mais no tempo, vemos as obras de Shakespeare e as tragédias gregas rodarem o mundo ao mesmo tempo que, com as movimentações artísticas do século XX, surgem novas interpretações e visões das tragédias e do texto dramático, em geral. Questionando a linguagem, o surrealismo nasce no períodos das grandes guerras, quando a Europa estava arrasada e a população vivia numa tensão constante. Valorizando os processos do inconsciente e a estética dos sonhos, a arte surrealista brincava com a lógica com o intuito de provocar uma reflexão. No teatro, esse movimento se manifestou no que ficou conhecido como Teatro do Absurdo. Despojado de convenções, cruelmente poético, arbitrário e imaginativo, esse tipo de teatro rejeitava a estrutura lógica, o desenvolvimento dos personagens e o pensamento do teatro tradicional. Diferentemente da estrutura rígida proposta por Aristóteles, o texto não precisa apresentar uma história, nem enredo; não precisa haver um começo e nem um fim.
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Samuel Beckett (1906 - 1989) |
Uma referência dessa vertente é Samuel Beckett, que era extremamente pessimista e ficou conhecido pela falta de sentido geral de seu diálogo. Ele é o autor da peça Esperando Godot que, dividida em dois atos, conta a história de dois personagens, Vladimir e Estragon, que aguardam a chegada de "Godot", um terceiro personagem que apenas é citado durante a peça, mesmo sem saber quem ele é ou o motivo de toda a espera. Enquanto aguardam a chegada de Godot - que nunca acontece - os personagens conversam entre si de maneira ilógica e tentam matar o tempo de inúmeras maneiras, inclusive se matando, mas parece que uma força maior os impede de tomar qualquer decisão definitiva, permanecendo numa inércia que se mantém durante toda a peça. Existem ainda alguns outros poucos personagens que ajudam a criar esse ambiente surreal e estranho. Nesse tipo de teatro já não temos mais convenções a seguir. Não há um herói trágico ou sequer um conflito principal que resolva a história toda. No caso de Esperando Godot, até as unidades de tempo e espaço são ignoradas, pois não se sabe a duração exata dos acontecimentos que se seguem e nem a localização exata dos personagens. Há uma unidade de ação, marcada pela espera de Godot, mas até essa ação é despropositada e a peça termina sem que ela se conclua.
Através dessas três peças, é possível se perceber a diferença no tratamento do texto dramático ao longo das épocas. Surgido da música, o teatro depois se emancipou e seguiu seu próprio caminho. A tragédia, que foi o foco deste texto, é citada como a melhor expressão do drama, mas há também peças cômicas, que buscam alcançar o riso, ou ainda peças que mesclem esses dois estilos. Na Grécia, a tragédia tomou formas que se tornaram canônicas e que são seguidas até os dias de hoje, influenciando inclusive, o cinema e a televisão da atualidade. Ao longo dos anos, muitas outras formas de escrever e representar sugiram e foram aprimoradas, resultando em diferentes vertentes de dramaturgia. Independente de suas diferenças, os textos dramáticos são sempre calcados na ação e escritos para existirem sobre o palco, através de atores, na realização de um espetáculo.
Grupo: Ana Carolina Rezende, Caique Cahon, Gustavo Furtuoso.
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