segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O jardim de veredas que se bifurcam

O “O jardim de caminhos que se bifurcam” é um dos contos de Jorge Luis Borges, apresentado cheio de alusões e associações dentro dele, como se fosse um labirinto narrativo ao nível do tempo e do espaço.

Análise do texto 

Yu Tsun é o principal personagem do conto de Borges, que se passa na Inglaterra durante a Primeira Guerra Mundial. Agente do império alemão, Yu Tsun foge do seu inimigo, o capitão Madden. Mas antes de ser capturado, precisa garantir que o exército alemão saiba o nome da cidade onde se encontra o novo parque de artilharia britânico. E para isso parte para Ashgrove a fim de encontrar Stephen Albert, cuja casa se encontra no centro de um labirinto em forma de jardim. O avô de Yu Tsun, Ts’ui Pen, fora justamente um governador que abandonara a sua profissão para se empenhar na criação de um labirinto e na escrita de um romance. Após 13 anos de empenho é assassinado por um desconhecido. Nesse momento, a sua família não encontra o labirinto, e encontra o seu romance que parece caótico, o que sugere que a sua empreitada fora um fracasso. Quem desvendará a Yu Tsun o mistério do seu avô é Stephen Albert, que conquista a sua admiração, mas mesmo assim acaba assassinado por ele, pois o seu nome “Albert” serviria para denunciar ao comandante alemão através dos jornais, o local de abrigo da artilharia britânica.

A obra entendida como labirinto convoca a experiência de perda e desorientação, por meio da irregularidade, da confusão e da obscuridade. Supõem-se duas coordenadas de um percurso capaz de estruturar o espaço e o tempo: a saída e o centro. Busca-se uma saída e a existência de um centro, sedutor, aterrorizante e mortal, onde provavelmente se encontra o monstro. Na obra borgiana, no entanto, nem sempre é possível achar o centro, muitas vezes o labirinto é uma rede que conduz ao infinito e sem um centro definido.

O emprego do labirinto pode representar a convicção de que a realidade percebida pelos homens, com seus aspectos ambivalentes, de desordem e ordem, prazer e dor, alegria e tristeza é a busca de um centro escondido. Um lugar único, onde, o leitor possa construir um significado pessoal, mas que possibilita ao labirinto e a sua malha de significações agregar um novo caminho possível, mais uma compreensão ímpar que somada às outras muitas possa encerrar-se na construção de uma identidade.

Na narrativa policial, a cidade é vista como um labirinto, com suas inúmeras vias, becos sem saída e lugares estranhos, onde o maior medo é o de perder-se. Dessa forma ela se apresenta como um espaço assombroso, maligno e assustador. Para Lyslei Nascimento (2011, p. 98) “a imagem do labirinto ligada à representação da cidade, o espaço aberto, e o mal não é incomum”. Isso porque com a revolução industrial, a cidade passa a ser o local onde com mais frequência ocorre a experiência do labirinto, de se perder e se achar, assumindo o papel que coube durante muito tempo, nas lendas e mitos, à floresta. (PEYRONIE, 2005, p. 571). Jorge Luis Borges, em seus contos policias, entrelaça labirintos que são reflexo da angústia, da desorientação e do desespero, despertando no leitor, muitas vezes, a sensação de pesadelo. Borges, recria a sua cidade, mas precisamente sua Buenos Aires, mitológica, real e imaginária de forma labiríntica para a qual poucos possuem o fio de Ariadne.

Para Borges, a noção de temporalidade é ilusória e relativa. Além disso, “a subjetividade da matéria se baseia sobre os mesmos princípios da subjetividade do tempo” (kazmierczak, 2001, p. 78). Assim o escritor o nega como tal e descompõe as características deste em passado, presente e futuro. Outra coisa a ser observada é que o tempo é também um eterno retorno, na obra borgiana. É um caos, um simulacro onde o homem está preso e não pode sair. Isso é possível perceber na passagem em que Yu Tsun tenta decifrar a perplexidade dos contraditórios capítulos do livro de Ts„ui Pên e se detém na frase: “Deixo aos vários futuros (não a todos) meu jardim de caminhos que se bifurcam” (BORGES, 2009, p. 112).

Características do Conto

O conto é um texto ficcional, ou seja, um texto que cria um universo de seres e acontecimentos de ficção, de fantasia ou imaginação. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e enredo.

Define-se pela sua pequena extensão: é mais curto que a novela ou o romance, mas tem uma grande flexibilidade, podendo se aproximar da poesia e da crônica. Possui estrutura fechada, ou seja, desenvolve uma história e tem apenas um clímax. Num romance, a trama desdobra-se em conflitos secundários, o que não acontece com o conto. O conto é conciso.

O conto quase nunca é publicado isoladamente; geralmente faz parte de uma obra maior. O primeiro passo para a compreensão de um conto é fazer uma leitura corrida do texto, do começo ao fim, a fim de verificamos sua extensão, a quantidade de parágrafos, as linhas gerais da história e a linguagem empregada pelo autor. Também é válido conhecer o autor e um pouco da sua biografia, saber se é um autor contemporâneo ou mais antigo, se é brasileiro ou estrangeiro.

Depois desse processo, partimos pra uma leitura mais atenta, que é quando elucidamos vocábulos e expressões desconhecidas e esclarecemos alusões e referências contidas no texto. Pensar no título e no porquê de o autor o ter escolhido também qualifica a leitura e torna o leitor mais sensível.

O passo seguinte é fazer a análise do texto, que será o momento em que o leitor terá contato com as estruturas da obra, com a sua composição e organização interna. Algumas perguntas são muito importantes pra ajudar na análise da composição: Quem? O que? Quando? Onde? Como?
Depois dessa análise, fica mais fácil interpretar a obra, porque já temos uma base para comentar, comparar, atribuir valor, julgar. Nossa leitura estará mais fundamentada. 

Intertextualidade

No texto de Borges, as inúmeras referências, associações e conexões podem o caracterizar como uma previsão do que surgiria décadas mais tarte: o hipertexto

O texto trata metaforicamente a respeito da ciclicidade da vida e tempo, assim como o relógio que reflete a infinidade com 12 números. "Linkando" com a ideia da física quântica de que infinitos futuros já existem e o que fazemos é acessá-los com escolhas, podemos ver a conexão que esse mesmo raciocínio cria em diferentes épocas com a cena da série “The Big Bang Theory”, onde o protagonista se depara com a possibilidade de qual futuro “acessar” frente a sua escolha, nos mostrando que as mesmas questões podem voltar a mente das pessoas num ciclo!


Não deixe de conferir também nossa apresentação.

Grupo: Carlos Fellippe, Carolina Doro, Everton Marin, João Guilherme, Vivian Armond.


Um comentário:

  1. Maravilhoso! Li esse conto e sai vencido por Borges. Um verdadeiro deleite.

    Obrigado pelo compartilhamento. ;)

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