quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

O jardim de veredas que se bifurcam - Parte 2

O conto O Jardim de veredas que se bifurcam, de Borges, e Uma descida no Maelstrom, de Allan Poe, possuem uma relação peculiar. O tempo em ambos os contos têm importância especial, senão primordial. Em Borges, o tempo do labirinto não se estabelece como sendo um só, mas uma infinidade, por isso, o labirinto oculta na sua espacialidade própria, múltiplos tempos; não apenas um único tempo uniforme, homogêneo, abstrato, mas “(…) infinitas séries de tempos, uma rede crescente e vertiginosa de tempos divergentes, convergentes e paralelos”. Essa trama de tempos que se aproximam, se bifurcam, se cortam ou que se ignoram, abrange todas as possibilidades.

Ambos os autores trabalham com a criação de uma atmosfera que cause alguma sensação no leitor: no caso de Borges, uma sensação de suspense, já que se trata de uma história policial “às avessas”, (onde não acontece primeiro um crime para que haja uma investigação e a resolução daquele, mas sim uma investigação e no final é que ocorre um crime); e no caso de Poe, uma atmosfera de angústia, que vai criando todo um enredo sem, no entanto, entregar “o ouro”, por assim dizer, ao leitor. É um ponto que se distancia a Borges, cuja resposta a todo mistério que envolvia o jardim consegue ser decifrada no fim.

O Maelstrom é um pedaço de mar tenebroso que engole qualquer coisa. Todo ser que entra no funil do redemoinho experimenta uma outra noção de tempo, onde suspendem as regularidades do tempo, do espaço e da racionalidade, assim como no labirinto de Borges, onde existe um outro tempo em cabem inúmeras possibilidades, passados e futuros. Ambos os personagens principais dos contos, quando absortos em suas jornadas, sentem-se diferentes, talvez serenos e tranquilos, conformados. Yu Tsun, o espião em Borges, absorto em imagens ilusórias, esqueceu seu destino de perseguido e durante um tempo se sentiu conhecedor abstrato do mundo. O pescador norueguês em Poe, quando se encontrava nas fauces do abismo, se sentiu com mais sangue frio do quando estava se aproximando dele. A ideia é que, quando a esperança parece perdida, pelo contrário, quando o esclarecimento pessoal se estabelece, o indivíduo consegue dominar grande parte do terror que o acovardava a princípio e enxergar as coisas com muito mais lucidez.


Grupo: Carolina Doro, Carlos Fellippe, Everton Marin, João Guilherme e Vivian Armond.

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